Cara Patrícia,
Isto vai ao jeito de um carta, como se de uma conversa entre amigas se tratasse. Acho que é, face ao que sentes, o melhor. Apesar de teres lidos os post's todos, talvez eu nunca tenha escrito o que senti durante os dois anos que demorei para tomar a decisão de me separar.
Depois de ter realizado que o bom que tinha sido tinha acabado, porque ele deixara de ser o meu companheiro de vida, - que é muito mais importante que ser o amante ou o pai, ou melhor amigo, porque ser-se companheiro/a para a vida engloba tudo isso, muito temperado com outras coisas - passei por fases diferentes.
Depois de ter realizado que o bom que tinha sido tinha acabado, porque ele deixara de ser o meu companheiro de vida, - que é muito mais importante que ser o amante ou o pai, ou melhor amigo, porque ser-se companheiro/a para a vida engloba tudo isso, muito temperado com outras coisas - passei por fases diferentes.
Primeiro, incrédula quanto a situações vividas, palavras ouvidas e ditas. Sim, Patrícia, nós também temos culpas... temos sempre... as únicas pessoas que não têm qualquer laivo de culpa são mesmo as crianças.
Depois, resolvi fechar dentro de mim essas congeminações e tentar ultrapassar diferenças em nome das crianças. Afinal, até tinha uma vida estável, bens materiais suficientes para não me preocupar com contas ao final do mês, ele era-me fiel e o inverso verdadeira também, só podia ser da minha cabeça o problema. Mas a vida perdia sabor, perdia cor... era como se fosse um furo lento num pneu, que te permitia fazer as viagens, mas obrigando-te a ir à estação de serviço a cada 200 km...
Ele também não era o paradigma do marido participativo, colaborante nas tarefas domésticas e dos filhos... culpa minha, que me deixei estar assim, com poucas reivindicações durante a relação...
Quando achei que criar os filhos e trabalhar, só por si, não me bastava, quando achei que devia haver vida depois do parto (dos partos, no caso), resolvi falar com ele, para colher a opinião relativamente ao facto de querer retomar os estudos, de modo a concluir a licenciatura. Que era bom, para mim e para todos, argumentei. Que não, que era outro capricho meu, igual a tantos outros... Teimei, fui, estudei, estudo ainda. Ainda crente numa relação já morta... Tentei enganar-me durante 2 anos, em nome dos meus filhos, sobretudo.
Ele também não era o paradigma do marido participativo, colaborante nas tarefas domésticas e dos filhos... culpa minha, que me deixei estar assim, com poucas reivindicações durante a relação...
Quando achei que criar os filhos e trabalhar, só por si, não me bastava, quando achei que devia haver vida depois do parto (dos partos, no caso), resolvi falar com ele, para colher a opinião relativamente ao facto de querer retomar os estudos, de modo a concluir a licenciatura. Que era bom, para mim e para todos, argumentei. Que não, que era outro capricho meu, igual a tantos outros... Teimei, fui, estudei, estudo ainda. Ainda crente numa relação já morta... Tentei enganar-me durante 2 anos, em nome dos meus filhos, sobretudo.
A fase seguinte foi uma fase de muita solidão, porque tudo quanto havia a medir, a pesar, a a pensar (como vou fazer isto ou aquilo só? será que vou ser apoiada pela minha família nesta decisão? como será que os meninos vão aguentar uma vida com rotinas tão diferentes, tão desconhecidas? como é na realidade a minha rede familiar? se eu precisar ajudam-me com os meninos? eu estou disposta e tenho força para aguentar os juízos de valor que farão de mim?...), tinha que ser por mim própria. Foi uma fase dura, triste, sobretudo triste.
A última fase chegou quando uma noite ao deitar-me o olhei e me apercebi que ia deitar-me com um estranho. Nem sequer um inimigo, mas um estranho... apercebi-me ali que o meu companheiro de vida tinha ficado algures, num local qualquer e, em seu lugar, instalara-se um homem que eu não reconhecia... e que eu queria mais para mim, tinha direito a mais e não tinha o direito de o prender, num engano. nem a mim, num cerco...
Ouvir alguém a dizer que já não quer viver connosco deve com toda a certeza ser duro. Mas, cara Patrícia, dizê-lo é muito duro. Foi o que mais me custou. Demorei dias a reunir a coragem para lhe dizer que estava tudo acabado. Mas disse-lho. Chorei muito nos dias seguintes. Chorei com pena do amor que tinha morrido, com pena de o não conhecer. Com pena, muita, do que os meus filhos poderiam vir a sofrer dali em diante.
Depois vieram os juízos de valor, perguntas disparadas à queima-roupa. Custam, algumas delas.
Um ano em que mais apetecia desaparecer...
Agora, está tudo muito mais calmo. O respeito e o civismo começam a espreitar... Mas são conquistas doridas, demoradas.
Por isso, cara Patrícia, avalia muito bem o caminho que escolheres. Pensa bem em todos os prós e contras. Vê bem, analisa bem se ainda não vais a tempo de se sentarem os dois, ou com ajuda de quem saiba, e resolverem o que haja a resolver. Vê bem se no meio de tanto mar revolto, não haverá ainda aí amor que baste para começarem a remar no mesmo sentido. Fá-lo com calma, com pragmatisto (tanto quanto estas situações permitem...), com realismo, tentando ser o mais assertiva que conseguires, sendo certo que todos os casais passam por períodos de adaptação depois da chegada dos filhos (que é sempre mais complicada do que nos ensinam...).
Mas sobretudo, porque depois das decisões, não há volta a dar...
Ouvir alguém a dizer que já não quer viver connosco deve com toda a certeza ser duro. Mas, cara Patrícia, dizê-lo é muito duro. Foi o que mais me custou. Demorei dias a reunir a coragem para lhe dizer que estava tudo acabado. Mas disse-lho. Chorei muito nos dias seguintes. Chorei com pena do amor que tinha morrido, com pena de o não conhecer. Com pena, muita, do que os meus filhos poderiam vir a sofrer dali em diante.
Depois vieram os juízos de valor, perguntas disparadas à queima-roupa. Custam, algumas delas.
Um ano em que mais apetecia desaparecer...
Agora, está tudo muito mais calmo. O respeito e o civismo começam a espreitar... Mas são conquistas doridas, demoradas.
Por isso, cara Patrícia, avalia muito bem o caminho que escolheres. Pensa bem em todos os prós e contras. Vê bem, analisa bem se ainda não vais a tempo de se sentarem os dois, ou com ajuda de quem saiba, e resolverem o que haja a resolver. Vê bem se no meio de tanto mar revolto, não haverá ainda aí amor que baste para começarem a remar no mesmo sentido. Fá-lo com calma, com pragmatisto (tanto quanto estas situações permitem...), com realismo, tentando ser o mais assertiva que conseguires, sendo certo que todos os casais passam por períodos de adaptação depois da chegada dos filhos (que é sempre mais complicada do que nos ensinam...).
Mas sobretudo, porque depois das decisões, não há volta a dar...
7 Comments:
Como és sábia SOL. No teu retrato apresentas um parágrafo final de luta em prol do amor, da tentativa de saberem se irão ou não a tempo ainda...
Eu também subscrevo isso pois " depois das decisões, não há volta a dar..."
Numa palavra:
LINDO!
Disseste tudo Sol.
Felicidades a ambas.
Olá SOL, disseste tudo no teu post, sinto-me como se só fosse mãe e dona de casa, sei que ainda o amo e é por isso que ainda estou com ele, mas cada vez sinto mais que ele já não é o meu companheiro de vida, porque eu quero mais, muito mais e quero viver com alguém que não se acomode à rotina e depois da minha filha nascer (tem agora 9 meses), parece que estou sozinha cá em casa!
O tempo me dirá o que fazer, é difícil mudar tudo, como tu disseste, quando se tem uma vida estável, uma boa casa, parece que somos felizes, mas olhamos para o lado e só vemos um estranho.
Tudo isto aconteceu a partir da gravidez, um filho tão pedido e desejado por ele e agora estamos nesta situação.
Estamos casados à 3 anos e namorámos 4 anos.
Eu sei que já era para conhcer bem a pessoa com quem estou, mas afinal enganei-me, a chegada de um filho altera tudo.
Eu sei que não sou feliz com um homem assim ao meu lado!
Desabafei convosco porque sei que passaram por uma fase talvez parecida com a esta que ando a viver, procurei conselhos, mas no fim de tudo, eu sei que só eu posso decidir.
Acreditem que tenho ponderado tudo e se ainda estou com ele é por insegurança em relação ao futuro da minha filha, não queria que ela tivesse 2 educações diferentes e um dia fosse uma criança revoltada e triste, porque a família do meu marido não gosta de mim, não gosta de pessoas decididas e independentes financeiramente, queriam uma nora submissa e não têm.
é tudo muito complicado quando se tem uma sogra que ainda por cima faz a cabeça do filho contra mim e apesar de não ter ainda conseguido, o maior desejo dela é vernos separados para poder ter lá a neta 2 fins-de-semana por mês inteirinhos!!
Para meu castigo moram a 5 minutos daqui de casa!!
É pela minha filha e pelo amor que ainda sinto por ele, apesar de já não sentir o que sentia à uns tempos atrás, que ainda aguento e dou sempre mais uma chance ao nosso casamento.
Um dia destes vou criar um blog com os desabafos, alegrias e tristezas do meu dia a dia, porque sei que é bom ter quem nos escute e nos dê um miminho quando precisamos.
Obrigada por tudo e pelo carinho com que escreveram os posts, ficpo até sem palavras.
Acho que como este ano faço 30 anos a minha vida vai mudar, tenho esperanças nisso :)
beijinhos e um abraço para vocês que estão ai
Parabéns, Sol! Escreves bem sobre o que sentes/sentiste. E eu recordei sentimentos meus na altura da minha separação com as tuas palavras.
Patrícia, força!
Beijos
Que post magnifico. Escreveste muito bem, SOL.
Eu tb tive um período difícil no meu casamento. Já namorava há 9 anos com o meu marido quando casei. Depois de casar, a habituação às novas regras e responsabilidades não correu bem...mas aos poucos encaixámos, mas não pacificamente. O amor foi mais forte, mas houve muitas palavras desagradáveis e noites desconfortáveis....Com a nascimento do filho, e com todos os problemas que este trazia, só tivemos oportunidade de nos unirmos Muito....não houve mais complicações. As nossas energias estavam muito absortas pelos problemas...felizmente não vieram mais (os nossos como casal) e a nossa união foi muito importante. Não poderia concordar mais com este post. O que for para decidir....é para ser decidido assertivamente...com calma. Um fim de semana a dois, sem bebé por perto também poderá ser útil para conversar melhor e verificar como está realmente a vossa relação...Enquanto houver amor...talvez valha a pena tentar mudar as coisas...
Um beijo e muita força e calma para a Patrícia e outro para quem escreveu este magnifico post.
Lois, não há aqui sabedoria nenhuma... houve foi muita dor, muita tristeza e o infeliz descobrir que as separações, apesar de poderem trazer coisas boas, têm um lado sombrio...
Beijos
Susana, igualmente!
Patrícia, espero que sim, que as minhas palavras te possam, de alguma maneira ajudar a aclarar as ideias. Um beijinho especial para ti!
Arthur, ainda bem ;o)
Anne Marie e Grilhinha, beijinhos e também tudo de bom para as duas!
És linda Sol! E pelo que conversámos e pelo que ficou por dizer, és um ser humano maravilhoso, sempre sorridente e com muita força.
Beijocas
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