Divorciadas, sim! E depois?

Alguma coisa contra mulheres com filhos, sozinhas no mundo e cheias de coragem?!

quarta-feira, agosto 09, 2006

Ainda sobre a PS2...

... pensei responder nos comentários, mas depois vi que talvez merecesse um novo post. Por isso, lá vai…

Para começo de conversa, eu tive a percepção de que aquela reacção era agora uma parvoíce... todavia, somos humanos, temos falhas e temos medos... e por mais normalizada que tentemos que seja a vida no pós-divórcio, a verdade é que ficam medos, sobram angústias. Sobretudo no que aos filhos mais directamente toca.

Concretamente, acerca do comentário feito pela/o Maddy, contrariamente ao que sugere, a questão aqui não é de simples preconceito anti pai-divorciado... existe um fundamento real para este medo. Foi a circunstância de ainda na "legislatura" anterior, leia-se, na constância do casamento, a política que o pai dos miúdos e eu seguíamos era a de não se estar continuamente a comprar brinquedos às crianças, pois gostávamos que elas dessem o valor às coisas que tinham (e já assim, não tinham poucas). Limitávamos as prendas aos aniversários, natais, Páscoa e dia da criança. Tentávamos, inclusive, sensibilizar o resto da família a esta conduta.

Com a separação, realizei que, da parte dele, os valores se tinham alterado diametralmente. De repente, o pai, que, aliás, passou uns meses sem ter disponibilidade para ver/estar com os filhos, "acordou para a vida" quando recebeu a notificação judicial para a RPP.

Subitamente, ali estava um pai a comprar brinquedos a um ritmo quase semanal, isto é, sempre que as crianças iam para a casa dele, havia novidades tipo a mota do homem aranha e do batman, barbies novas e cheias de acessórios, bicicletas (com a agravante de, na separação, não me ter deixado trazer quase brinquedos nenhuns e os que compra também não circulam com as crianças…), enfim, uma parafernália de brinquedos a que eu, nesta nova fase da vida, a começar do zero, não podia – nem posso – fazer face.

E porque é que digo “fazer face”? Porque se chegou a uma altura em que os miúdos, ao regressar da casa paterna, me perguntavam o que é que eu tinha para eles… foi neste momento que senti que os miúdos estavam mesmo a ser usados como arma de arremesso. Era o confronto, puro e duro. E foi algo que me custou a aceitar…ainda hoje me dói saber que ele teve o desplante de o fazer… mesmo sabendo que os miúdos um dia hão-de entender que foram usados… claro que não vou ser eu a mostrar-lhes tal, porque também não fui eu a usá-los… mas a possibilidade existe, o dano está feito… e como diz a Div_íssima, eu não estou a criar atrasados mentais…

Naquela ocasião, ficou guardado para mim o papel de “bruxa má”, isto é, explicar a um miúdo de 6 anos que eu não tenho forma de comprar brinquedos, de o levar a centros de actividades lúdicas, a teatros, a workshops, a cinemas, a escolas de equitação, sei lá eu mais o quê, mas que em compensação, tenho o frigorífico repleto de comida, tenho a casa já quase mobilada, tenho as contas de água, luz, gás, tvcabo e gasolina pagas (e fiz este percurso literalmente, sentando-o na mesa da cozinha e pondo-lhe as contas todas em cima da mensa…).

Talvez não tenha sido tão “bruxa má”, porque ele entendeu onde eu queria chegar. Fui dura. Mas tive de o ser, uma vez que os pedidos ao pai para moderar as prendas iam caindo em saco roto.

Daí a “recaída”… daí o medo que me percorreu a espinha… ao que talvez se tenha juntado o facto de irem passar as férias com um pai durante 3 semanas, 3 longas semanas…
Mas é como disse, somos só humanos, temos medos...

14 Comments:

At 2:00 da tarde, Blogger Maríita said...

Sol,
Esse é um medo que tu vais ter que combater sozinha, mas deves ter uma certa tranquilidade pois as crianças gostam de sentir que são amadas por si e não porque têm que optar entre um ou outro progenitor...

Logo falamos sobre isto com calma.
Beijocas

 
At 2:39 da tarde, Blogger SONHADOR said...

Quando existem filhos de pais separados, a melhor prenda, até a mais cara, que um(a) filho(a) pode receber da pessoa com quem fica a cargo é a vida.

Podes não ter dinheiro para comprar prendas iguais que ele recebe do pai, mas já lhe dás outras prendas bem mais importantes que talvez não receba da mesma forma do outro lado...

Pensa nisso.

 
At 2:47 da tarde, Blogger SOL said...

Maria, este, e um bom par de outros medos, são as minhas lutas solitárias... não são bem solitárias porque tenho agora ao meu lado uma pessoa extraordinária que sempre me ajuda a ver com mais clareza. Tento sempre não colocar as crianças em situações de escolhas dramáticas - aliás, aí acho que foi sempre um estandarte desta guerra - nunca permiti ou permito que, por exemplo, falem mal do pai à frente deles.
Mais logo falamos melhor, claro!

Maddy, claro que não podias conhecer, certo? ... :o) mas o teu comentário fez-me pensar mais um bocadinho e publiquei o presente post. Porque apesar de estar separada há quase 2 anos, muito há ainda por limar, por trabalhar e, quiçá, haverá sempre, porque sempre existirão as crianças...

Sonhador, gosto de acreditar que lhes dou essas outras prendas de que falas... pelo menos vou tentando!

:O)

 
At 3:44 da tarde, Blogger SOL said...

Maddy, já te mando email, ora pois!

:o)

 
At 4:20 da tarde, Blogger SOL said...

Maddy, já mandei "brasa"! lol

:*

 
At 6:13 da tarde, Blogger Lígia said...

Eu lembro-me que quando me aconteceu isso... sim tb eu tenho um pai de fds, no início era o delírio, era o fascinio, era o uaaaaaa!!!!! depois quando dei conta so queria ir lá para casa para brincar com o playmobil do castelo, as bonecas fantasticas, tava a cagar para se ele estava ou não lá... vai acabar por acontecer, as crianças não são parvas, como te disse antes preferem o beijo ao brinquedo.
Beijocas e força

 
At 7:12 da tarde, Blogger Buttafly...fly...fly... said...

Sol,

apesar de apenas te "conhecer" assim um xiriri aqui da blogosfera, depois de ler este post não pude deixar de te dizer que melhores dias virão de certeza e que, acima de tudo, deves seguir sempre aquilo que achas melhor para os teus filhotes. Força e muita garra. ;-)

Um bjinho da ButtaflySu, "colega" da virtualidade

 
At 9:27 da tarde, Blogger Ck in UK said...

Ok, isto tem duas partes.
a 1a e que isto que relatas e muito serio e frequente no divorcio. Nao entedo pq saiste nessas circunstancias e o teu ex nao, mas isso tb nao interessa para aqui. O q interessa e q nao podes entrar nesse jogo. quem esta com os filhos todos os dias es tu. Quem trata deles qdo estao doentes es tu. E nao ele, por muitas PS2 que compre. Por isso e importante q isso esteja claro na tua cabecita.
Qto as ferias, vais ver que eles vao mas e chegar dessas duas semanas roidos de saudades tuas. e ai quem se ri es tu!

Nao te esquecas q pra comprar brinquedos so e preciso dinheiro, e amor e atencao nao se compram.

 
At 10:13 da manhã, Blogger SOL said...

Lígia, de facto, é a minha aposta, o afecto, o amor que lhes sinto, fazê-los sentir isso...

Buttafly Su, obrigada!

Ck in Uk, as razões da minha saída, como tantas outras incompatibilidades posteriores à mesma é um assunto que está noutro departamento, claramente não se mistura com o que diz respeito às crianças.
Felizmente, apesar de todos os motivos que levaram à separação e a conflitos posteriores, a verdade é que tanto eu como o pai nunca misturamos as coisas, eu pelo menos não o faço; esta questão dos brinquedos, de "comprar" o afecto dos miudos com bens materiais e actividades lúdicas ´foi talvez das únicas áreas em que ele se portou mal no que toca aos filhos. É muito inexperiente quanto a tomar conta deles, precisa de muita ajuda - minha, inclusivé, e a bem dos putos - não tem uma rede familiar que o apoie, mas é preocupado, é responsável e sei que agora tem ttentado o seu melhor.
Felizmente, depois de ter levado um apertão em juízo, atinou e deixou-se de merdas, leia-se, parou com as compras compulsivas.
Eu sei que o amor que me t~em é grande, mas, apesar de já viver separada há quase 2 anos, ainda me custa certas coisas e as separações moem, por causa das saudades. Mas já não me sinto em competição, entendes?

Apouca, linda, não há confusão...nem tão pouco o desejo que eles vejam a merda que o pai fez... tomara eu que eles se esqueçam que o pai me agrediu, entendes?
Tomara eu que eles apaguem da memória cenas muito feias que as crianças nunca deviam sequer imaginar que pudessem existir, entendes?
Tomara eu que nunca se apercebam do instrumento em que o pai as tentou transformar, entendes?

Apesar dos meus medos e de alguns conflitos, até acho que tenho mantido alguma sanidade e isenção. A bem dos miudos.

 
At 10:46 da manhã, Blogger Issima said...

Sol, minha querida,

Tu sabes que és uma mãe fantástica. És afectuosa, firme, amiga, disciplinadora e extremamente dedicada... Entendo lindamente os teus medos... Há coisas com que os miudos ficam deslumbrados, ainda que temporariamente, e que nos enchem o coração de medo e de angustia.

Acho que não tens que ter medo.
Deixa-os curtir lá a merda da PS2. Ainda bem que alguém lhes proporciona esse prazer. O maisimportante é que eles tambem têm o mais importante... E, nesse campo, com o devido respeito pelo pai deles, és francamente tu quem lhes proporciona mais coisas mais importantes.

Linda, tu, pá. : )

 
At 2:35 da tarde, Blogger SOL said...

Apouca, linda, na boa! "Tásse bem"
he he he

Sabes, é para destilarmos estas "toxinas" que o blog [também] serve. Eu percebi que teria eventualmente tocado num nervo... o meu estava com uma destas nevralgias, que nem te digo... mais uns pozinhos de injustiças diárias e farpas que ele ainda gosta de tentar mandar...

Na generalidade dos dias, atino, mas esta da playstation...

Beijo grande!

 
At 12:03 da tarde, Blogger Nelson said...

Percebe-se o medo. Os miudos são facilmente influenciáveis e deslumbráveis. E quando estão excitados, estão felizes e se não estão excitados com alguma coisa nova estão aborrecidos.

Por mais que se tente evitar (e infelizmente tenta-se pouco de ambos os lados da barricada) os miudos acabam sempre por ser armas de arremesso. Fica muita coisa por dizer "àquele cabrão insensível" ou "àquela vaca frígida" e os epítetos menos lisonjeiros abundam. Passa-se daí para usar os miudos como forma de "marcar pontos" e que melhor forma, se emocionalmente as pessoas são vazias, de comprar os afectos? Ganhá-los dá trabalho. É preciso ter atenção, preocupar-se com a escola, mantê-los bem alimentados e vestidos, levá-los ao médico, espreitar para debaixo da cama para ver que não há monstros... quando não há pachorra (ou jeito) para fazer isto, viva o dinheiro! É o caminho mais fácil para virar os putos contra a mãe/pai.

Dou-te os parabéns por estares a levar a luta de forma séria e honesta! Vais ver que no fim acabas por rir melhor. Os brinquedos têm piada durante algum tempo, depois passa. A intimidade que se constrói ao longo da vida fica para alturas mais tardias, quando o puto, agora crescido, tá em baixo por causa de uma namorada que já não o é, por causa de um curso que não gosta, por causa de um emprego que nunca mais vem, por causa dos putos dele (e nessa altura ele não vai querer deixá-los com o avô que os mima com brinquedos e euros até à exaustão, mas com a avó que os mima com afectos.

Força aí! E vais ver que a tua vida económica também há-de levar uma volta, desde que não te deixes derrotar. Eu já tive de recomeçar a minha umas quantas vezes e cada novo começo, embora custoso, é uma excelente aprendizagem.

Ah, e ainda não tenho putos, por isso, quanto muito, só tenho a minha experiência enquanto filho a falar por mim (e o divórcio dos meus pais aconteceu muito tarde, tinha eu quase 20 anos).

 
At 7:05 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Tenho de meter o bedelho:).
O meu "pai" tambem compra resmas de coisas aos miudos e também no meu caso eu sou a "tesa" que não se pode esticar muito!
Para te ser sincera de inicio aborrecia-me um pouco isto mas com o passar dos tempos os meus filhos interiorizaram que é assim e ponto final. Agora sempre que querem algo pedem ao paizinho e eu não me aborreço nada com isso até porque quando querem uma noitada politicamente incorrecta ou uma dança estouvada é sempre comigo que vem ter:))) e o paizinho tambem agradece esta minha disponibilidade para a ...extravagancia:). Acho que ha sempre formas de compensar as coisas e o importante é não baixar a cabeça e retaliar com as armas que temos:)

Beijoooo

 
At 7:23 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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