Eu amante me confesso

Se eu falasse de amores, falaria de emoção forte, de dúvida entre paixão e amor, de intensidades, de pés no chão com coração no ar, de certezas de sempre ter amado quando, algumas vezes, apenas de chama intensa se tratou.
Como diz o outro: já tive amores de todas as cores, de muita paixão e de muita dor.
Ao primeiro estava para o situar na fase da inocência. Falso. Na fase da inocência estou sempre que amo.

Fase do descobrir que o coração trabalha para além da explicação médica.
Até pedia a Deus que o amado terminasse com namorada (amor platónico quase...). Ainda bem que não me fez esse favor. Hoje seria proprietária de um talho! Quem sabe a própria ajudante do talhante! (por outro lado perdi a benesse de ter concertos de saxofone exclusivos. Aqui sim, seria o concerto mais pequeno do mundo).

Fase do devo ser mesmo boa!
Então não é que ainda adolescente, houve alguém, 6 anos mais velho e com óptima posição profissinal, que se apaixonou por mim! E casamos e tudo! Mas o meu deslumbramento terminou porque ele "não era assim tão bom" e acabei trocada. Se calhar (mas só se calhar, porque continuo com muuuuuiitas dúvidas) eu também "não era asssim tão boa"...
O castelo de sonhos desmoronou-se... o que é isso de até que nos separe na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza?!...

Fase da descoberta que podia pisar o risco.
Curta no tempo e ainda bem. Seria a maior das loucuras. Curei-me pela decepção precoce.

Fase do verdadeiro amor da minha vida.
Chegou de mansinho, mesmo sem chama, mas ficou forte, cúmplice, intenso, sendo que a cada dia que passava se iluminava de paixão. Permitiu-me perceber que eu sabia e conseguia AMAR, permiti que cuidasse de mim, permiti envolvimento para dizer "eu preciso de ti" (coisa rara. um touro não entra nestas lamechices, não fica vulnerável desta maneira). Mas como tudo na vida, teve um fim, mal acabado, mas um fim.

Fase do vamos lá ver se isto a dois resulta se eu não der importância à razão.
Errado, mais errado não há. Sem paixão, sem amor, apenas ilusão...
E é precisamente daqui que nasce a pimpolha (também se assim não fosse nunca teria filhos na vida).

Sei que apenas amei uma vez...de tal forma que custa a esquecer, apesar de racionalmente já estar tudo arrumado.

Como diz tão dengoso Martinho da Vila: "Procurei em todos os homens a felicidade, mas eu não encontrei e fiquei na saudade, foi começando bem mas tudo teve um fim".